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Ep. 6 -- 1971 - Parte I: O ELENCO - Os Personagens da Peça

Ouça o podcast aqui.


Quando alguém vai ao teatro para ver uma peça, recebe um programa que inclui a lista dos personagens e uma breve descrição do seu papel na história. Sinto a necessidade de introduzir os personagens principais neste ano da nossa história, pelo menos. A história que estou prestes a contar estende-se por 45 anos, e a lista de personagens em si encheria um livro. A propósito, Guerra e Paz de Tolstoi detém o recorde do maior número de personagens identificados por nome em um romance... 600! Para escritores de ficção, o número recomendado de personagens principais é de 3 a 5, no máximo. Mas em não-ficção, é evidente que o autor não tem a opção de simplesmente inventar personagens para promover um enredo. Os escritores de não-ficção têm de trabalhar com os personagens que encontram na narrativa, e a elaboração da história não ficcional funciona de forma contrária à exigida na elaboração de uma obra ficcional. Na ficção, o trabalho do escritor é determinar o número máximo de personagens a serem inventados e seu papel no enredo; A tarefa do autor de não-ficção é podar a lista de personagens encontrados ao longo da narrativa e reduzir ao mínimo o número daqueles que são essenciais para mover a história adiante. Este episódio prepara o terreno para a nossa história e para 1971, em particular.


No último episódio, resumi a nossa situação. Eu tinha deixado meu emprego e saímos da nossa casa alugada em Wisconsin. Nossa perua (como no Brasil se chamou a Kombi VW) de 1968 se tornou nossa casa móvel no sentido mais verdadeiro da palavra, quando "oficialmente" lançamos nossa viagem missionária da casa dos meus pais no Colorado em 14 de janeiro. Onze meses depois, em 17 de dezembro, chegámos de volta ao nosso ponto de partida, tendo viajado 38.400 km, durante o qual eu tinha pregado em 14 estados e uma província canadense e feito um curso de linguística de 10 semanas.


Pensei que seria fácil narrar as nossas experiências. Eu escrevi diários muito detalhados nos primeiros anos, desde 1971 até 1981, pelo menos, então não há problema com sequências de eventos ou falta de material que serve de fonte de informação. Mas já se passaram quase 8 meses desde o meu último post neste podcast. Qual é o problema? Por um lado, ler um diário escrito há mais de 50 anos é um trabalho árduo. Em quase todas as páginas encontro referências a eventos e pessoas de que me tinha esquecido completamente, ou outras de que me lembro e preferiria esquecer. E como vou extrair as pepitas de lições úteis da escória da vida monótona do dia a dia e contar uma história que vá além do simples divertimento? Seria tão fácil deslizar pela ladeira escorregadia do sentimentalismo e divagar longamente pelas recordações dos bons velhos tempos e dos entes queridos que já não estão connosco. Mas reconheço que aqueles bons velhos tempos nem sempre foram tão bons, afinal, e isso me ajuda a manter o sentimentalismo sob controle. Mas seria pior seguir o caminho do exagero apenas para "vender a história". Aqui está a minha tentative de ser instrutivo e não meramente informativo. Quero que esta seja uma narrativa realista, não uma diatribe reacionária contra ofensas, percebidas ou reais, por um lado, nem quero escamotear as dificuldades reais com que tivemos de lidar. Muitas famílias missionárias naufragaram nas rochas da desilusão quando descobrem que a vida no campo missionário estrangeiro não é a aventura romântica que idealizaram.


O ELENCO DOS PERSONAGENS


Começarei com uma breve apresentação dos principais agentes desta história, alguns dos quais eram pessoas de carne e osso, enquanto outros são objetos inanimados ou desafios e situações espirituais e emocionais abstratos.


Nossa família em 1971: Ed (24), acompanhado por Abbie (23), Raquel (3) e Ricardo (2).

[Ao mencionar nossas idades, passa pela mente este breve pensamento: "Em que estávamos a nos meter?"]


1968 VW Kombi. O quinto membro da nossa família era o nosso mini-bus VW amarelo, com a idade de 3 anos e meio e mais de 118.000 km no final do ano. [Vejo que a Volkswagen está planejando reviver a Kombi, um modelo elétrico, acho. Se a única consideração fosse sentimentalismo, eu seria o primeiro na fila para comprar um. (Não se preocupe. Não vai acontecer.)] Foi literalmente a nossa casa durante o ano todo. Falo mais sobre isso no episódio a seguir "1971 – Parte II". Fazia parte da família. Comia mesmo quando não tínhamos o que comer e recebeu a atenção dos seus médicos nas oficinas mais vezes do que consultávamos os nossos. Foi pior do que as crianças a exigir a nossa atenção. Em vários momentos durante a viagem, tive que calibrar o platinado (ainda alguem faz isso?). Se você não sabe do que estou falando, não vou me dar ao trabalho de explicar aqui. Pesquise no Google. Basta saber que, se o platinado estivesse desgastado ou malajustado, o motor não funcionaria bem ou de todo. Uma vez eu fui obrigado a parar ao lado da estrada e reajustar o platinado apenas para que pudéssemos atravessar as montanhas em Washington no caminho para Tacoma. Em julho, houve um vazamento de óleo e o motor teve que ser desmontado duas vezes em um mês. Depois, havia amortecedores e, mais tarde, sapatas de freio que tiveram que ser substituídas, sem mencionar furos e pneus gastos. Quando voltamos para o Colorado, em dezembro, a transmissão não ficava em 4ª marcha e precisava de ser desmontada e consertada. Para o trabalho da retificação do motor e a reparação da transmissão, havia irmãos nas igrejas que ofereciam fazer o trabalho; nós só tivemos de arranjar as peças. Assim, não só tivemos de lidar com as crises de febre e infeção de Raquel e Ricardo algumas vezes, ou com a necessidade urgente de Abbie de ver o dentista; a saúde da Kombi era uma preocupação constante e uma pressão sobre as nossas finanças. A família. A gente aguenta muito com eles.


Piano de Abbie. Embora o piano de Abbie só apareça brevemente nesta parte da nossa história, ao longo dos anos, teve um papel fundamental, preenchido por pianos diferentes. Há muito a dizer sobre o piano ao longo destes 45 anos.


Irmão Gene Garner, pastor da Landmark Missionary Baptist Church of Rockford, Illinois Esta era a igreja onde éramos membros. Nós não éramos afiliados a nenhuma junta de missão ou agência missionária, e quando ouvimos a chamada de Deus para ir para o Brasil, pedimos à igreja que nos enviassem, seguindo o exemplo de Paulo e Barnabé quando foram enviados em sua primeira viagem missionária pela igreja em Antioquia em Atos 13. A igreja e o pastor nos ajudaram com a papelada para nossos vistos através do consulado brasileiro em Chicago, mas era uma igreja pequena e o apoio financeiro também o foi, menos de US $100 em 1971, de acordo com meus registos. Falo mais sobre a nossa situação financeira em "1971 – Parte III". O Pr. Garner e a igreja em Rockford aparecem nesta história principalmente em 1971-72 e nos primeiros anos no Brasil.


Missionários veteranos: o irmão Steve Montgomery – cujo funeral assistimos no verão de 2022, de que falei no episódio 3 "Pensamentos sobre a passagem de uma geração" – e o irmão Don Ross. Nós os conhecemos quando eles passaram por nossa igreja no Colorado, quando eu era adolescente, e eles foram os instrumentos que Deus usou para pôr o campo missionário no Brasil em nossos corações. Quando chegámos ao campo, estes homens e as suas famílias já lá estavam há quase 20 anos. O irmão Ross trabalhava nos subúrbios de São Paulo e fez o possível para me convencer a trabalhar com ele em uma escola de formação de pregadores. O Irmão Steve começou seu trabalho missionário no Brasil em São Paulo, mas depois mudou-se para o interior do estado de São Paulo, onde organizou várias igrejas em pequenas cidades. Senti-me chamado para plantar igrejas, e por isso acabamos morando ao lado dos Montgomerys, no interior do estado de São Paulo, 400 quilômetros a oeste da capital. Estes dois missionários foram responsáveis por nos dar contatos com muitas das igrejas que visitamos.


Irmão Edward Byrd: O pai de Abbie. Em outras palavras, ele era meu sogro, mas eu achava difícil chamá-lo de qualquer coisa além de "Bro. Byrd", embora em correspondência privada no final de sua vida, eu me dirigisse a ele como "pai". Quando eu tinha 9 anos, ele era meu pastor no Colorado e me batizou. Ele e a família saíram do Colorado pouco tempo depois, e foi apenas 7 anos depois que nossos caminhos se cruzaram novamente. Desta vez, eu estava muito mais interessado em sua filha de 15 anos do que quando eu tinha 9 anos. Também eu estava mais interessado nela do que estava nele.


Menciono-o aqui, no entanto, principalmente não por causa da ligação familiar. Seu papel em nossas experiências missionárias foi muito além dos laços familiares, como ficará claro com o passar dos anos. Ele ensinou grego NT no Seminário Batista Missionário em Little Rock no final da década de 1940, que era um braço da Associação Batista Americana. Em algum momento no início dos anos 50, ele caiu em desgraça com a liderança da ABA e da escola. Ele foi forçado a deixar a escola e passou o resto de sua vida pastoreando pequenas igrejas batistas missionárias independentes no Colorado, Califórnia, Havaí, Illinois, Texas, bem como no Arkansas, claro. Ele passou uns poucos de anos em cada lugar, várias vezes deixando um estado para trabalhar em outro, depois retornando e pastoreando outra igreja na área onde ele havia pastoreado anteriormente. Abbie passou por 10 escolas diferentes em 5 estados diferentes antes de completar a educação secundário.


"The Reminder": Um jornalzinho de 8 páginas auto-publicado mensalmente pelo "Bro. Byrd" durante 40 anos. Nos primeiros anos, o jornal era mimeografado, mas ele acabou comprando uma impressora offset e imprimiu o jornal ele mesmo. O conteúdo do jornal consistia principalmente em seu comentário sobre passagens bíblicas e sua interpretação de questões doutrinárias. Ele enviava cerca de 600 cópias por mês para toda a parte dos EUA, e este jornal, mais do que qualquer outro meio, era o laço que conectava as igrejas que visitámos, e desempenhou um papel importante nos eventos posteriores em torno de nosso trabalho no campo estrangeiro.

No final, foram as posições doutrinárias tomadas pelo meu sogro no Reminder que ofuscaram todas as nossas relações com as igrejas, onde quer que fossemos. Eu era, antes de tudo, "genro do irmão Byrd", para o bem ou para o mal. Foi uma situação que demorou quase 30 anos para chegar à sua conclusão.


PRENUNCIANDO O FUTURO --- Ao ler meu diário de 1971, tomei consciência das sementes que foram semeadas ou começaram a brotar nos primeiros 12 meses de nosso trabalho missionário. Algumas sementes permaneceram dormentes, e só anos mais tarde elas irromperam em plena floração; outros eram fatores constantes que aceitávamos como parte natural da nossa caminhada com Deus. Algumas pessoas poderiam chamâ-los sacrifícios, embora eu não posso pensar em nada que realmente consideramos um sacrifício. Estávamos apenas obedecendo a Deus.


Vejo três áreas principais em que os acontecimentos prenunciavam o que o futuro nos reservaria.


1. O LAR E RELAÇÕES FAMILIARES

2. QUESTÕES FINANCEIRAS

3. QUESTÕES DOUTRINÁRIAS


Cada um deles é explicado mais detalhadamente nos próximos três episódios.

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