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Ep. 9 -- 1971 - Parte IV: COMBATENDO O BOM COMBATE - O Elefante na Sala

Ouça o podcast aqui.

Quando pensamos em elefantes, a primeira imagem talvez seja de um jardim zoológico. Ou de um circo, embora os tempos tenham mudado, e os elefantes vão perdendo o seu papel no espetáculo. Em various partes do mundo onde o equipamento mecanizado ainda não chegou, são animais de trabalho. E recuando ainda mais no tempo, antes de armas de fogo e canhões terem substituído lanças, flechas, e espadas, elefantes faziam parte do equipamento de guerra. Aníbal atravessou os Alpes com seus elefantes, quando atacou Roma.


Há outros elefantes que são invisíveis, mas nem por isso são menos reais ou formidáveis. E, ao contrário dos elefantes que estamos acostumados a ver, estes podem ir em qualquer lugar, a qualquer hora, mesmo sendo do tamanho de um elefante.




Desde o início da nossa subida a esta montanha, tivemos de enfrentar um forte vento contrário que tornou um objetivo improvável praticamente inatingível. Estávamos em Bend, Oregon, por cerca de uma semana, visitando algumas igrejas quando recebi um telefonema do pastor de uma igreja no estado vizinho de Idaho. Eu nunca tinha estado na costa oeste em WA, OR e CA, portanto,eu não sabia nada sobre qualquer uma das igrejas que visitamos. No máximo, eu só conhecia três ou quatro dos pastores pessoalmente. As visitas eram marcadas através da rede informal de pasgores que conheciam outros pastores. O pastor que me ligou era daqueles que eu não conhecia nem tinha ouvido falar dele. Ele ligou para dizer que quando ele propôs à sua igreja que eu fosse lá pregar e apresentar a nossa chamada, a igreja votou contra. Não estávamos bem-vindos. O motivo: The Reminder, a publicação mensal do meu sogro e as doutrinas que ele defendia. (Ver Episódio 6 – Elenco de Personagens). Aqueles irmão não sabiam quem eu era ou o que eu pregava, mas sabiam quem era meu sogro e o que ele ensinava. Eles nunca chegaram a saber o quão fortemente meu sogro e eu discordávamos em pontos da doutrina, e até o fim de vida dele. Se eu tivesse ido a Idaho e eles tivessem descoberto que minha doutrina estava alinhada com a deles, tenho certeza de que mesmo assim não teríamos recebido nenhum apoio deles para a obra no Brasil. Na verdade, não recebemos apoio algum de nenhuma das igrejas da costa oeste que visitamos. Eu era um forasteiro do Colorado, com laços familiares no Arkansas.

Não sei até que ponto a frase “há um elefante na sala” é entendida em outras línguas. Ela representa um assunto grande e sério que todos os participantes numa discussão preferem ignorar. É como se estivesse um elefante na sala que é invisível, mas todo mundo está bem ciente da sua presença. Meu sogro não era o elefante na sala, mas personificou-o. Através do seu jornalzinho, o "irmão Byrd" granjeou um número considerável de pregadores que eram, para todos os efeitos práticos, seus "discípulos". E tal e qual os atenienses mencionados em Atos 17:21, quando esses pregadores se reuniram para uma conferência, eles não falaram de nada além de ouvir quem entre eles havia descoberto "alguma coisa nova", e debater sua última revelação sobre a interpretação de uma passagem bíblica. Muitos desses discípulos pastoreavam igrejas na costa da Califórnia. Quanto mais procuraram promover suas posições, mais alienavam aqueles que defenderam as posições "batistas tradicionais". Eles foram apelidados de “New Lighters”, isto é, eles receberam uma nova luz sobre a doutrina.


Meu diário de 1971 inclui numerosas referências a discussões sobre esta cisão que tive com pastores e pregadores. Esta convulsão doutrinária sempre foi o elefante na sala. Eu repetidamente comentei no diário algo como: "O irmão Fulano me recebeu bem e nada do que ele me disse estava muito fora da linha, mas parecia que poderia ser." "O irmão Beltrano e eu parecemos concordar na maioria dos pontos, mas ainda estou incerto. Me agrada a atitude dele." "Tive conversas com pastores que têm 'desentendimentos', mas tentei dar-lhes o benefício da dúvida." "(Nós) discutimos os problemas doutrinários. Todos nós parecíamos concordar (na doutrina e no espírito)." "Eu não posso concordar com tudo, mas há alguns pontos positivos, eu acho."

Na Califórnia, assisti a uma assembleia da associação de igrejas batistas missionárias, na qual uma igreja foi expulsa da associação, acusada de abraçar heresias relacionadas com estas disputas doutrinárias e por apoiar um querido colega missionário que eu conhecia há anos. O pastor da igreja expulsa foi um seguidor dos ensinamentos do meu sogro, e a moção foi alterada para dizer que o motivo para a expulsão da igreja era "receber membros excluídos de outras igrejas" em vez de “abraçar heresias”. Meu comentário no diário: As atitudes e ações de certas partes eram evidentemente anticristãs e infantis, impróprias do povo do Senhor.

Este foi o campo de batalha doutrinário que tive de percorrer. Em todo o lugar, fui pressionado para afirmar a posição de um dos lados ou condenar a visão oposta. Por respeito ao meu sogro e aos seus anos de estudo, tentei ver o lado positivo da sua interpretação das escrituras, como se vê nos comentários que fiz. Ao mesmo tempo, nunca consegui abraçar os seus ensinos plenamente. Sempre havia algo que me escapou na tentativa de pôr o dedo no erro fulcral. Passariam quase 30 anos antes de eu perceber onde a lógica daquela posição falhou. Só então todas as peças se encaixaram. Naquele momento, perdemos toda a ajuda das igrejas que nos apoiavam nos 30 anos no Brasil e em Portugal. Quando a rutura com a posição de meu sogro se tornou definitiva nos anos 90, ele escreveu uma carta acusando-me de rejeitar a verdade das escrituras (isto é, a sua interpretação do que os batistas deveriam acreditar) e disse que eu tinha escolhido o caminho fácil de aceitar a "tradição", que ele rotulava de protestantismo. "Pelo contrário", respondi. "Eu escolhi o caminho difícil de rejeitar a 'tradição'." (A tradição, no meu caso, foi a doutrina que ele e outros promoveram, na qual fui criado). Expliquei que tinha abraçado alegre e plenamente a verdade das Escrituras e, como Jesus disse, "a Verdade me libertou". Não diria que o caminho que escolhi foi o mais fácil, mas fiquei tão liberto que até fiquei livre da ajuda das igrejas.

Não adianta entrar em pormenor sobre as questões que inflamaram o discurso entre nossos irmãos e igrejas. Só falo disto porque era importante para mim decidir de uma vez por todas que lado tinha razão à luz da Bíblia. Apesar de todas as minhas tentativas de ver o lado positivo do que esses irmãos estavam dizendo, eu só tive paz quando tomei uma posição aberta e lhes disse: "Sua interpretação das escrituras e da história está errada". Olhando para trás agora, vejo que acabei não concordando plenamente com nenhum dos dois lados. Assumo a minha própria posição de acordo com o que leio na Palavra de Deus e não me preocupo em estar alinhado com qualquer grupo ou sistema de ensino, mas unicamente com as escrituras.

Meu sogro estava errado sobre outra coisa. Ele sentiu que, por eu não aceitar seus ensinamentos, eu estava a rejeitá-lo como pessoa. Seria igualmente errado pensar que eu não amo aquelas igrejas e irmãos que romperam os laços de comunhão connosco por causa da posição que vim defender baseada na Palavra de Deus. Não guardo um espírito de má vontade nem sentimentos de rancor. Eu acredito que eles amam o Senhor, e Ele os usou para ser uma tremenda bênção para nós; eu só queria que eles possam vir a conhecer a alegria e a liberdade que agora experimentamos no Senhor.

Eu explico tudo isso aqui porque essa questão permeou todos os contatos que fizemos quando preparamos a nossa ida ao campo missionário pela primeira vez. A situação foi como uma chaga purulenta por quase 30 anos, até que o abcesso foi lancetado e a ferida nos nossos corações foi sarada. Que Deus estenda a Sua mão e sare as feridas que ainda possam estar abertas nos corações de outros.


Em 18 de dezembro, um dia depois de chegarmos à casa dos meus pais no Colorado, recebemos a notícia de nossa igreja em Rockford, Illinois, de que nossos vistos haviam sido aprovados. Faltava mais alguns documentos para preencher antes de levantarmos os vistos, mas 1972 seria um ano completamente diferente, exceto para o nosso sistema de apoio financeiro, que no papel seria tão incerto quanto em 1971. Mas Deus continuou a ser o subscritor do plano.

Não tínhamos a certeza de quando iríamos sair para o Brasil, mas estávamos determinados a sair assim que tivéssemos os documentos e o dinheiro para enviar nossas coisas e comprar nossas passagens aéreas. Não tínhamos estabelecido uma quantidade mínima de apoio mensal prometido de igrejas ou indivíduos antes de partirmos, o que parece ser uma prática comum de missionários que se dirigem para o campo estrangeiro. Assim que tivéssemos os documentos e a tarifa de viagem, estaríamos a caminho do Brasil. Nossa saída do país não resolveria as batalhas doutrinárias travadas no meio do nosso grupo de igrejas, mas pelo menos estaríamos fora da linha direta de fogo das lutas doutrinárias pelas quais passamos. Iríamos continuar a ser atormentados por aquele elefante, mas, na maior parte do tempo, ele estava na outra sala no hemisfério norte. Para já, teríamos uma nova batalha a travar no Brasil: aprender português.

Mal posso esperar para descobrir o que aconteceu em 1972. Não leio esse diário desde que foi escrito, há 51 anos atrás.

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