Este episódio retoma a história de episódio 11, que foi interrompida pelo relato em Ep. 12, ocasionado pela referência aos eventos de 25 de Abril 1973, e sua influência sobre nós. Estes nove meses foram um teste decisivo que determinaria o nosso sucesso ou fracasso na chamada missionária. Se passássemos bem este período, seríamos capazes de passar por qualquer outro teste no campo missionário.
O facto de que o português deste episódio está replete de expressões brasileiras é evidência de que as fontes que consultei foram redigidas no Brasil na altura que estávamos a viver as experiências que 50 anos mais tarde ainda nos marcam.
Chegamos ao Brasil em 24 de março de 1972, e a primeira ordem de trabalho foi fazer-nos em casa em um novo país. Passamos a maior parte do primeiro mês na metrópole de São Paulo com a família Ross, mas Deus estava nos chamando para o interior, para cidades menores e lugares distantes que ainda não tinham sido alcançados com o evangelho. Foi só no fim de abril que nos mudamos para a casa ao lado da família Montgomery, em Santa Cruz do Rio Pardo, situada a 400 quilômetros a oeste da capital paulista, São Paulo. Eu hesito em estimar sua população em 1972, mas arriscaria um palpite de 5.000 ou mais. Andar nas estradas rurais de terra através das plantações de cana-de-açúcar ou café que cobriam as colinas ondulantes de barro vermelho levantou uma nuvem de poeira fina que filtrava através das janelas fechadas dos carros e tingia de vermelho as camisas suadas. Na estação chuvosa, dirigir era uma batalha com lama escorregadia e sulcos profundos. O cheiro de grãos de café torrados emanava de uma usina de café no morro do outro lado do Rio Pardo, o rio que passava pela cidade. O próprio nome do rio foi uma referência à cor avermelhada-argilosa de suas águas. Foi uma escolha natural para fazer batismos.
Mobilando a casa
A casa tinha acabado de ser pintada dentro e fora, mas pouco mais. Os únicos móveis eram uma pia de cozinha, um banheiro com uma sanita e um chuveiro, e uma lavanderia atrás da casa com um tanque de concreto e tábua de lavar roupa à mão. Seriam 7 longos meses de dedos doloridos até Abbie conseguir uma máquina de lavar roupa no final de novembro.
Nossa cama e mesa de jantar foram emprestados pelos irmãos Steve e Jeannie Montgomery... emprestado, não dado, porque eles não queriam que sentíssemos presos aos móveis e não comprássemos nossos próprios móveis mais tarde. O primeiro móvel que compramos foi uma cômoda usada por US $ 10, completa com 7 baratas. No meu diário, perguntei-me a mim próprio se aquelas baratas eram novas ou usadas. As baratas eram uma característica constante da vida. No final do ano, em outubro quando a primavera chegou, na casa dos Montgomerys ao lado, todos os armários tiveram que ser esvaziados e limpos por causa desta espécie invasora. Os animais selvagens domésticos também incluíam lagartixas, que eram inofensivas, mas isso foi facto de pouco consolo para Abbie quando uma vez ela saiu da cozinha por uma porta e uma caiu sobre seu pescoço uma lagartixa da parede. Dentro do salão de cultos, lagartixas lutaram umas contra as outras na parede atrás do pregador. A congregação mostrou mais interesse nessas lutas do que na mensagem do pregador, já que as lagartixas reencenavam cenas em miniatura das lutas entre os dinossauros do Jurassic Park.
Regra geral, nós nos contentamos com qualquer coisa que poderíamos usar para mobiliar a casa. Prateleiras foram adicionadas à caixa de embalagem de madeira contraplacado barato do fogão. Era lá que as roupas das crianças eram guardadas. Para nós, a frágil caixa de contraplacado em que o frigorifico foi embalado foi convertida em um armário improvisado. Os bens domésticos que tínhamos enviado antes de partirmos dos Estados chegaram ao porto de Santos antes de chegarmos ao Brasil, mas foi só depois de inúmeras viagens longas à alfândega e telefonemas e confusões burocráticas, que conseguimos receber nossas coisas em junho, mais de dois meses depois de chegarmos. Nós pintamos o antigo baú em que enviamos as coisas e o usamos como a única peça de mobiliário na sala de estar. Em novembro, fizemos uma grande compra: duas cadeiras de pátio por US $ 7 cada para completar nossos móveis de sala de estar. No quarto de dormir, uma lata de café de 1,5 kilos foi coberta de papel azul e branco e serviu como mesa de cabeceira para o nosso despertador. O papel azul combinava com o azul escuro das paredes do quarto.
Sete meses depois de nos mudarmos para a casa, Abbie ainda estava fazendo cortinas para pendurar sobre as janelas despidas da sala de jantar, sala de estar e quarto. Claro, não havia varas de cortina, então eu saí e cortei bambu para usar como varas de cortina.
Nem tudo, no entanto, estava na mesma classe das caixas de contraplacado barato e as varas de bambu.
A primeira coisa que fizemos foi ir até a Sears, em São Paulo, e comprar um frigorífico e um fogão a gás para o nosso novo endereço. Os novos eletrodomésticos já estavam na casa quando chegamos em Santa Cruz do Rio Pardo, no final de abril. Mas o frigorífico avariou-se em duas semanas. Após telefonemas e mais uma viagem que fizemos a São Paulo, a Sears concordou em substituir o sem cobrar pelo frete. Houve algum inconveniente durante os 10 dias em que não tínhamos um frigorífico, já que tínhamos que ir à casa do vizinbo sempre que precisávamos de algo do frigorífico dos Montgomerys.
São Paulo---Aquela "viagem à cidade" era de 400 quilómetros em cada sentido, e se tornou uma parte normal da vida. De carro, levou entre 4 e 5 horas, mas não tínhamos carro, e a menos que Steve fosse para São Paulo e eu pegasse uma boleia com ele, demorava a maior parte do dia porque o autocarro (ônibus) não era direto e tínhamos que trocar de ônibus em outras cidades para chegar à capital. Lá, tivemos que andar de ônibus locais por mais 45 minutos para chegar à vila do subúrbio onde ficamos com a família Ross.
Dinheiro: a longa viagem ao banco
E qual foi a frequência destas viagens? Sempre que o nosso dinheiro acabava. Nosso sustento consistiu em cheques pessoais de igrejas e indivíduos. Nenhum banco do interior os trocava na hora, pelo que tivemos de recorrer a cambistas na capital, normalmente em agências de viagens. Eu às vezes ia sozinho, mas também era uma oportunidade para Abbie e as criançasRaquel e Ricardo, saírem de casa e ficarem com a família Ross. Isso também significava que eu não tinha que voltar apressadamente para casa. Nem os Rosses nem os Montgomerys tinham telefone, então sempre que eu viajava sem a família, não tínhamos como comunicar uns com os outros. Todos esses fatores se conjugaram para criar uma tempestade perfeita em setembro e resultaram em uma das experiências mais inesquecíveis dos 3 anos e 3 meses que vivemos no Brasil.
Chegou a hora de trocar os cheques de USD e reabastecer nosso suprimento de Cr$. Em julho, eu tinha calculado que poderíamos "sobreviver" com US $ 140 por mês, porque algumas coisas (legumes, frutas) eram muito baratas ... Uma vez conseguimos um saco de ponkan enormes, 98 delas por US $ 2. (No meu diário, notei que Abbie não foi ao culto no dia seguinte e ficou em casa porque as crianças tinham alguns problemas intestinais, provavelmente uma relação de causa e efeito entre esses dois eventos.) Uma vez, em uma viagem mais para o interior, passei uma noite em um hotel por US $ 1,50. Nosso aluguel de casa foi de US $ 60 mais a luz (mas isso foi um quarto da nossa média mensal de US $ 250 em ofertas). Os rendimentos mensais variavam muito, em parte devido à nossa dependência dos serviços postais. Em nove meses, duas vezes conseguimos um pouco mais de US$ 300, mas em maio, o segundo mês em que estivemos no Brasil, as ofertas totalizaram US$ 66,50. Os Montgomerys montaram uma sala em sua garagem e eu dei aulas de inglês para complementar nossos fundos, já que tivemos que substituir as roupas e aparelhos domésticos que não tínhamos trazido dos Estados Unidos. E tínhamos que nos certificar de que havia dinheiro suficiente para o ônibus para São Paulo para trocar os cheques que entretanto tinham chegado.
Decidimos que Abbie e as crianças iriam comigo nessa viagem em setembro. Eram 7h00 da manhã de sábado quando saímos de casa, mas não chegamos a Bauru a tempo para apanhar o ônibus para SP. O próximo ônibus só chegou à capital às 4:00, onde pegamos o ônibus da cidade para Vila São José onde os Rosses moravam. Chegamos à casa deles às 5h00 e descobrimos que ninguém estava em casa. Um vizinho nos viu e disse: "Ah, eles foram ao Rio de Janeiro para uma reunião de igreja e só voltarão na segunda-feira". Como nem os Rosses nem os Montgomerys tinham telefone, não foi possível avisá-los da nossa vinda e eles não podiam nos avisar que iriam ao Rio de Janeiro naquele dia.
Lá estávamos nós na rua com duas crianças pequenas e sem lugar para ficar. Nesse momento o dinheiro na algibeira estava em Cr$ 4,50 (cerca de US $ 0,72), e isso foi muito antes dos dias dos cartões de crédito. Ficar num hotel estava fora de questão. Lembrei-me que uma vez eu estava com o Pr. Don e passámos na casa de um missionário. Por acaso lembrei-me do nome deles, então voltamos a uma loja no bairro e procurei o nome deles na lista telefônica. O facto de serem a mericanos tornou mais fácil encontrá-los do enorme livro. A esposa do missionário atendeu o telefone e disse que o marido tinha ido a uma reunião e só voltaria tarde. Eu expliquei nossa situação e ela disse que éramos bem-vindos para vir à casa deles. Ela me disse quais as linhas de ônibus teríamos que pegar para chegar ao bairro deles e qual paragem era a mais próxima de sua casaNão conhecíamos bem essa cidade grande, e estava ficando escuro e começava cair a garoa típica de São Paulo. Eu tinha uma vaga ideia de onde eu tinha estado com Don, mas no ônibus, eu tive que ficar no corridor, debruçado sobre nossa mala e olhando para a frente para não perder a paragem certa. No trânsito normalmente caótico de São Paulo, o motorista teve que parar repentinamente. Os passageiros assistiram ao “show” de um americano alto segurando uma mala deslizar de cabeça pelo comprimento do corredor revestido a gasóleo e parar ao lado do motorista.
Tínhamos menos de $1, e a viagem ainda não acabou
Descemos do ônibus no bairro certo, mas no escuro eu não reconheci as ruas. O endereço que demos às pessoas que encontrámos não ajudou muito porque a rua era sinuosa e havia muitas ruas laterais com nomes semelhantes. Finalmente houve alguém que sabia de uma família americana que vivia por lá e encontramos nosso destino.
Quando entramos no último ônibus, dissemos a Raquel e Ricardo para passarem debaixo da catraca porque não tínhamos muito dinheiro e não queríamos pagar outra passagem de ônibus. Mas Rick gostou da ideia de girar a catraca e passou por ela antes que pudéssemos pará-lo. Lá foi mais um Cr$ 0,50. Mas o Senhor havia prometido que teríamos sempre o suficiente para nossas necessidades. Naquela noite, fomos dormir na casa de um estranho depois de viajar por 12 horas, e ainda tínhamos dinheiro: Cr$ 2 (US$ 0,25).
Fomos à igreja com os missionários no dia seguinte, e na segunda-feira eles nos levaram para a casa dos Rosses, onde ficámos a saber mais detalhes da história. As igrejas em SP alugaram um ônibus para a viagem ao Rio para uma dedicação de uma igreja, e reservaram um lugar para nós. Quando eu não apareci, acharam que eu tinha vindo para SP e voltado para casa já. Durante quatro dias seguidos, Don tentou ligar para um dos membros de nossa igreja em SCRP para nos informar sobre seus planos, mas ele nunca conseguiu. Como resultado, perdemos uma dedicação de igreja no Rio de Janeiro, mas, puxa!, ganhámos uma experiência em São Paulo que nunca esqueceremos!
Recordações de Paraguai: galinhas, porcos, e um cavalo
Nossa visita aos nossos colegas, a família Eldwyn Rogers em Assunção, Paraguai, é outra experiência que lembramos por diferentes motivos. Lembro-me das saídas ao campo e ouvindo pregações em guarani com toques de espanhol aqui e ali, enquanto nos sentávamos sob a sombra de árvores, e porcos e galinhas entravam e saíam à vontade das cabanas cobertas de palha. A recordação mais vívida (e provavelmente única) de Abbie é ser persuadida pelos filhos dos Rogers a montar um cavalo, que prontamente a jogou no chão e lhe deu uma dor nas costas por dias. Esse foi também o seu primeiro e último contacto com um cavalo. Desde então, a sua atitude em relação a andar a cavalo sempre foi: "Nunca mais!"
As aventuras de tirar a carta de condução...no Brasil e em Arkansas
O meu desafio de transporte não estava relacionado com cavalos; estava a tirar a minha carta de condução. Fiz o teste escrito e de estrada e consegui a minha carta no dia 30 de novembro, na primeira tentativa. Isso era tão raro que o examinador comentou: "Você fez isso em um dia!" Na verdade, levou 2 meses e meio. Comecei em meados de setembro a obter todos os documentos, e depois tive de fazer um curso na escola de condução local e obter uma autorização de aprendizagem antes de fazer o teste em português, seguido do teste de estrada. O facto que eu tinha dirigido 24.000 milhas no ano anterior não contava nada. Isso prenunciou o que aconteceu quando nos mudamos de Portugal para o Arkansas, em 2016, quando eu tinha 70 anos. Como o sistema computorizado mostrou que minha última licença nos EUA era do Colorado na década de 1980, tive que fazer o teste escrito e obter uma carta provisória de 30 dias que exigia que houvesse sempre um adulto licenciado no carro comigo. Quando fiz o teste de estrada, comentei que tinha conduzido em três continentes, incluindo São Paulo no Brasil, Lisboa em Portugal e Nápoles na Itália. Comecei a conduzir aos 16 anos, muito antes de o examinador de 40 anos ter nascido. Ele achou isso engraçado. Eu tentei achar isso engraçado.
A visita ao dentista -- não era assim nos EUA
O que Abbie não achou nada engraçado foi sua visita a um dentista no Brasil. Claro, isso não é divertido em lugar nenhum, mas quando um dente quebrou e ela teve que ir ao dentista, ela escreveu em uma carta para minha mãe:
"Eu sentei na cadeira abanando meu rosto para que os mosquitos não entrassem no meu nariz e boca enquanto o dentista estava trabalhando em mim. (Não houve telas nas janelas.) O balcão de consultas é apenas uma pequena mesa no canto da sala onde ele trabalha. Sua filha o ajuda um pouco e ela entrou sem uniforme e não lavou as mãos (pelo menos, na sala). Ela ficou ali e mordava as unhas enquanto entregava as ferramentas ao pai.
Essa era uma grande diferença em relação aos consultórios odontológicos que ela frequentava nos Estados Unidos.
Como aprender uma língua: ou vai ou racha
Depois, há o obstáculo óbvio que provavelmente vem à mente primeiro. A língua. Isso, evidentemente, não é tanto um obstáculo para as crianças pequenas. Em poucos meses, Rick, de 3 anos, estava repetindo tudo o que ouvia em qualquer um dos idiomas. Em dezembro eu escrevi no meu diário,
Outro dia, Abbie mandou Rick varrer as migalhas de comida de debaixo da mesa (porque, afinal, ele é o principal responsável por elas estarem lá). Enquanto varria, dizia vezes sem conta: "Vem aqui, garbage". (Vem cá, lixo.) Para que ele dissesse tudo em português, dissemos-lhe que em português a palavra para “garbage” é "lixo". Ele registrou essa informação e voltou a varrer, dizendo: "Come here, lixo". Todos nós nos sentimos assim às vezes. Não podemos mais falar direito em nenhuma das duas línguas. Está tudo misturado.
Nós não tivemos nenhuma aula de português. O que aprendemos foi apenas vivendo e trabalhando entre as pessoas. Para Abbie, isso foi principalmente em ambientes domésticos e compras para as necessidades da casa, que incluía duas crianças pequenas. No início, a Irmã Jeannie às vezes ia com ela para algumas das compras, e ela ajudava com o vocabulário básico da dona de casa. Muitas vezes eu estava fora, viajando com o irmão Steve ou indo para São Paulo para documentos ou dinheiro. Abbie tinha Irmã Jeannie ao lado em caso de qualquer emergência e ficamos gratos por isso. Recentemente, dei por alguns dos documentos da minha mãe, que incluíam cartas que ela recebia e guardava, e encontrei uma carta que irmã Jeannie Montgomery escreveu aos nossos pais no primeiro ano em que estivemos no Brasil. Daí, ficamos a saber a história contada do outro lado do muro que dividiu as nossas casas. Jeannie escreveu quão feliz ela estava por estarmos morando ao lado. Jeannie contou que Abbie foi uma verdadeira bênção para ela porque, pela primeira vez em mais de 20 anos no campo missionário, ela finalmente teve uma vizinha que falava inglês. Nunca sabemos todas as maneiras pelas quais o Senhor pode nos usar, não é mesmo?
Quanto a mim, sou um viciado em línguas. Mesmo antes de sairmos dos Estados Unidos, escutei várias vezes um pequeno disco de vinil com frases em português do Brasil, para que quando chegássemos ao Brasil eu pudesse cumprimentar as pessoas apropriadamente a qualquer hora do dia, "Bom dia", "Boa tarde", etc. Eu sabia dizer "obrigado", e quando chegamos ao aeroporto do Rio de janeiro e passamos pela imigração, experimentei o que tinha aprendido e disse ao oficial, "Não falo português.”. Ele rebateu em inglês: “But you just did." (Mas foi isso que fez agora.) O que deveria ter praticado dizer era: "Esta é a única coisa que sei dizer em Português". Mas essa frase não estava no disco.
Em dois dias, antes mesmo de poder comprar meu próprio livro de gramática e dicionário, peguei livros emprestados do irmão Don Ross e estudei português. Havia cultos praticamente todas as noites em algum lugar, e eu me concentrei em cada vogal e cada sílaba que os oradores diziam. Esses sons estranhos eram peças de quebra-cabeças que eu tinha que encaixar em um quadro completo da gramática e sintaxe corretas do português brasileiro. Os novos sons representavam masculino ou feminino; singular ou plural; passado, presente ou futuro; os nomes dos objetos e expressões abstratas que eu precisaria saber para poder pregar as verdades bíblicas.
Sempre que eu falava em um culto, (Don e Steve faziam questão que eu fizesse isso com frequência), eu pregava em inglês e um deles interpretava. Isso durou um mês, depois "preguei" em português pela primeira vez. Bem, eu li a partir de um texto que eu tinha construído usando um livro de gramática, um dicionário e a Bíblia. Estava tão envolvido neste processo que foi quase um mês depois que escrevi no meu diário: "Esta é a primeira vez que penso nos EUA". Isso porque tínhamos acabado de levantar os primeiros slides que eu tinha entregado para serem processados e eles foram tirados antes de deixarmos os Estados Unidos.
Nunca tem sido minha prática ler um sermão e escrever uma mensagem era demorado. Mas pregar através de um intérprete não era muito melhor. No final de maio, dois meses depois de chegarmos ao Brasil, falei pela última vez por meio de um intérprete. No final de junho, eu estava usando um esboço em vez de ler um texto completo e comecei a falar extemporaneamente a partir de notas. Felizmente, essas notas e mensagens escritas desapareceram há muito tempo. Tenho a certeza de que eu ficaria chocado com o português com o qual persegui os santos naqueles primeiros dias. Mas devo dizer que eles sempre foram muito graciosos e compreensivos e suportaram com bondade a maneira como eu massacrava a sua língua nativa.
O Natal vem todos os anos...o nosso Natal de 1972
Esse é um resumo bastante bom dos nossos primeiros nove meses no Brasil. No final de 1972, sentimo-nos bem em casa em uma cultura estrangeira. Mesmo que o Natal não fosse nada parecido com o que estávamos acostumados, para nós era algo natural. Não havia neve, era verão e estava quente; não havia peru ou presunto na mesa. O jantar foi arroz e feijão e tomates. Não havia presentes para trocar. O único cheiro de presentes que experimentamos foi o que os membros do ponto missionário de Ribeirão dos Cubas trouxeram. Steve e eu pregamos lá todas as tardes de domingo. Não era uma aldeia, apenas uma comunidade de pequenas fazendas vizinhas, e os irmãos se lembraram dos Montgomerys e de nós nesta temporada. Eles nos presentearam com três galinhas e um porco.
O Natal de 1973? Ninguém imaginava...
O Ano Novo estava quase aí. Todo aquele ano serviria como um período de treino, que culminaria no dia 28 de dezembro de 1973, quando um acidente quase fatal mudou subitamente todo o curso das nossas vidas. Enquanto saboreávamos nosso arroz e feijão em paz e tranquilidade no dia de Natal de 1972, ningúem nas duas famílias poderia prever o quão abruptamente nossas vidas seriam mudadas para sempre um ano depois.
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